Nota:
Este artigo teve bastante repercussão por ocasião de sua publicação em algumas
mídias, entre as quais, nos sites HSM Global e Cenofisco. Boa leitura e
reflexão!
Há algum tempo assisti a uma palestra do mestre da FGV-SP, Fundação Dom Cabral (entre outras) e colega do Instituto do Marketing Industrial, Luiz Carlos Cabrera, na qual nos mostrou a importância de nos posicionarmos e vivermos a vida como se ela fosse formada de ciclos e, como tal, sobre a necessidade de encerrarmos cada ciclo a fim de nos liberarmos para assumir novas responsabilidades, criar novos projetos e “espantar os fantasmas”.
Como sempre, a palestra foi recheada de exemplos do cotidiano para que cada um dos presentes pudesse refletir sobre seu momento e extrair um verdadeiro ensinamento de vida. De fato, fazemos parte da natureza e é ela a maior prova de que a vida tem o seu equilíbrio organizado por ciclos, como por exemplo: o nascer do sol anuncia um novo dia e seu pôr prenuncia a chegada da noite; a primavera se manifesta após o inverno e, no seu final, introduz o verão, que por sua vez, se despede trazendo o outono; dormir se faz necessário para repor energias e estar acordado é condição para fazer, realizar, construir, etc.
Na
vida humana, como diz Cabrera: “você pode estar começando num novo emprego,
terminando uma relação, comprando uma casa, trocando de cidade, negociando um
aumento, iniciando um curso de música, voltando a freqüentar a academia”. No
entanto, quantos de nós procrastinamos nossas decisões, “deixando” para outro
dia ou para um outro tempo que nunca chega e, com isso, passamos a conviver com
vários ciclos “em aberto”, os quais acabam contribuindo negativamente nos vários
contextos de nossa vida.
Sabendo
da importância dos ciclos na nossa vida, achei que seria relevante trazer à
reflexão, alguns exemplos que se repetem com freqüência no desenvolvimento da
carreira profissional de tantas pessoas e, no final, comentar a provável
conseqüência da má gestão dos ciclos.
·
Para
aqueles que estão iniciando a carreira
A grande maioria dos jovens, ao iniciar sua carreira, o faz com toda a energia e disposição, porém, passados alguns anos, observa-se um profissional desmotivado, sem iniciativa e com perspectivas futuras inteiramente limitadas.
Geralmente,
isso ocorre por uma série de razões. Entretanto, além de saber que alguns ciclos
precisam ser encerrados para que outros possam ser iniciados, uma das principais
causas é a falta de visão dos ciclos
necessários para seu desenvolvimento.
Portanto,
para aqueles que estão em inicio de carreira, recomendamos um “planejamento de ciclos”, ou seja, a
estruturação de como se pretende construir sua carreira ao longo dos anos e,
para tanto, é preciso projetar e estabelecer metas (com prazos) até onde se quer
chegar e os meios necessários.
Jamais
se esqueça de que o medo pode ser um
dos maiores obstáculos para o encerramento de um ciclo.
·
Para
aqueles que estão no meio da carreira, porém com falta de perspectivas de
crescimento
Tenho certeza de que você, caro leitor, sabe do que estou falando, pois se já não viveu ou vive essa situação, conhece alguém que se encontra nesse estágio.
Quantos
são os profissionais que, após alguns anos, conquistaram alguns degraus na
pirâmide organizacional e simplesmente estagnaram? Por que isso ocorre? O que
fizeram para mudar essa situação?
Se
você conversar com qualquer um desses profissionais, dificilmente não obterá uma
resposta que não contemple pelo menos uma das seguintes (ou algo parecido): a
empresa não dá oportunidade para o pessoal antigo; meu chefe só vê qualidades no
fulano e beltrano; tenho problemas de relacionamento com meu superior; não sei
mais o que fazer para ser promovido; etc, etc, etc.
Será
tudo isso realidade? Ou será que esses profissionais também não conseguem
enxergar os ciclos que compõem sua carreira?
Para
estes, nossa recomendação é fazer uma “revisão dos ciclos” e planejar os “novos ciclos” necessários para uma
retomada do desenvolvimento profissional.
Lembre-se
que, além do medo, a acomodação pode
estar sendo o principal adversário de seu progresso!
·
Para
aqueles que estão no meio de uma carreira ascensional
Até aqui, os profissionais que se encontram nessa situação sentem-se competentes, confiantes, prestigiados e com a certeza de que as novas conquistas serão conseqüência natural de seu sucesso.
Para
os profissionais que se encontram nesse momento de suas carreiras, nossa
recomendação é fazer uma “reflexão dos
ciclos passados” e a forma como cada um deles foi concluído, extrair os
melhores ensinamentos e projetar os “novos ciclos” ainda com maior
consistência.
Portanto,
cuidado!
Com
uma carreira vitoriosa até aqui, certamente o medo não marcou presença em sua
trajetória, porém não se esqueça que, se de um lado a confiança é uma das principais
qualidades dos profissionais vitoriosos, o seu excesso poderá criar uma “cortina”
que impedirá a visão realista dos ciclos atuais e futuros de seu
desenvolvimento.
·
Para
aqueles que estão na fase final de suas carreiras
Pode parecer não haver sentido em abordar esse grupo pois, afinal, a carreira já está chegando ao fim e agora não há mais nada a fazer. Ledo engano, pois para a grande maioria, esse momento talvez venha a ser o mais difícil de toda carreira e, possivelmente, seja o ciclo que apresente o maior grau de complexidade para fechamento ou encerramento.
Independentemente
se você foi um profissional de grandes conquistas ou não, lembre-se, em primeiro
lugar, que o encerramento de uma carreira deve representar apenas o final de um
dos ciclos da vida e assim como o nascer do sol anuncia um novo dia, a
perspectiva do final da carreira deve ser o incentivo para a formulação de um
(ou vários) ciclo que contemple aspectos que possam trazer – entre outros - bem
estar, prazer, realização e crescimento interior.
Para
quem se encontra nesse estágio da vida profissional, torna-se essencial formular
ciclos que privilegiem a família, a sociedade (representada pelos seres humanos
mais carentes), a saúde e a espiritualidade.
Lembre-se
que a vida ainda poderá trazer muitas compensações e alegrias, as quais só terão
algum sentido quando forem decorrentes de atitudes pessoais que buscaram a
felicidade dos outros.
·
A
principal conseqüência da má gestão dos ciclos na vida
profissional
Todos sabemos que o stress representa uma das principais ocorrências dentro das organizações e estima-se que 70% dos brasileiros sofrem as suas conseqüências. Desse total, estima-se também que 30% sofrem da Síndrome de Burnout.
No
site http://www.wikipédia.org/,
encontramos que “o termo Burnout é uma composição de burn=queima e
out=exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse
consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento
agressivo e irritadiço.
A chamada Síndrome de Burnout é definida por alguns autores como
uma das conseqüências mais marcantes do estresse profissional, e se caracteriza
por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e
insensibilidade com relação a quase tudo e todos (até como defesa
emocional)”.
A não gestão atenciosa e cuidadosa dos ciclos da vida profissional, pode
conduzir a pessoa a um estado de exaustão prolongada e conseqüente diminuição do
interesse em relação a todas as coisas que se relacionam ao trabalho,
caracterizando assim a tal síndrome.
Na medida em que os ciclos profissionais não são fechados, crescem os
problemas de relacionamento com as chefias e demais colegas, cai o desempenho e
o grau de cooperação com a equipe e aumentam os conflitos internos (até mesmo em
relação a situações consideradas simples).
No contraponto de tais considerações, na medida em que os ciclos da vida
profissional são bem geridos, aumenta-se o grau de resiliência, ou seja,
a capacidade do ser humano de enfrentar as pressões e adversidades no ambiente
de trabalho sem ser acometido pelo stress ou se tornar vítima da síndrome de
burnout.
Acredito que as pessoas que conseguem desenvolver uma boa gestão dos
ciclos da vida profissional se fortalecem e “acumulam energia” que as ajudam a
resolver os problemas e superar as barreiras e dificuldades com
naturalidade.
Apesar de concordar que ser resiliente é uma questão de atitude,
tenho certeza que se você gerir competentemente os ciclos de sua vida
profissional, encerrando-os no tempo certo ou quando as circunstâncias
impuserem, ajudar-lhe-ão a fortalecer seu grau de
resiliência.
Finalmente, conforme nos lembra Cabrera (tratando do assunto também na
revista Você S/A), que é possível perceber quando um ciclo profissional chega ao
fim: “Você para de aprender, sente que sua influência sobre as decisões está
diminuindo e as relações estão se desgatando”.
Se chegou esse momento, é melhor iniciar o planejamento da mudança do que
ser aniquilado por ela.
Torço para que você esteja gerindo com muita competência todos os ciclos de sua vida!
Autor: Carlos Alberto Zaffani - Consultor em Gestão de
Empresas