sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Previsão, intuição, palpite ou adivinhação?

Nota : Escrevi este artigo em outubro de 2008 e o mesmo foi publicado (na época) por algumas mídias diferentes e, mesmo neste blog, já o divulguei.

Passaram-se mais de 6 anos, muita coisa boa e ruim aconteceu e estamos, novamente, diante de um momento em nosso país considerado crítico por muitos e sem perspectiva de solução.

Assim, convido-o a lê-lo para uma reflexão, fazendo uma analogia com as perspectivas para o Brasil em 2015!

Meu cordial abraço!
__________________________________________________________________________

Iniciei a redação deste artigo poucos dias após o governo dos Estados Unidos ter aprovado um pacote de ajuda ao sistema financeiro norte-americano de US$ 700 bilhões e no dia em que a Bolsa de Valores de São Paulo acumulava – em quatro dias úteis – uma perda de 19,4%, enquanto o dólar encerrava o dia cotado em R$ 2,31, representando uma desvalorização do real de mais de 40% em poucas semanas, significando uma verdadeira maxi-desvalorização.

Muito embora essa crise tivesse dado seus primeiros sinais há mais de um ano, ninguém teve a coragem de afirmar que grandes e tradicionais instituições financeiras norte-americanas e de outros países poderiam vir a quebrar alguns meses depois. Todavia, passadas algumas semanas da quebra de um dos maiores bancos de investimentos norte-americanos (Lehman Brothers) e a percepção generalizada de que estamos no meio (ou seria no início?) de um autêntico furacão nas finanças do mundo, também parece existir agora, um consenso de que ninguém, absolutamente ninguém, pode afirmar – com segurança – a dimensão do impacto das coisas que estão por vir e que certamente afetarão as economias dos países, das empresas e das pessoas mundo afora.

O nosso país, que tanto se beneficiou dos preços internacionais de várias commodities e vivendo uma das melhores fases econômicas de sua história recente, parece não querer acreditar na dimensão do problema e – através de pronunciamentos de vários representantes do governo – procura minimizar os efeitos danosos, ressaltando que o Brasil estaria preparado para enfrentar a crise e sem grandes dificuldades. Será isso uma realidade? O tempo dirá?

Quando o prezado leitor estiver lendo este artigo, provavelmente muita coisa já tenha ocorrido. Esperamos que decisões sensatas tenham sido tomadas pelos governos das principais nações do mundo e que as mesmas tenham sido suficientes para o restabelecimento da confiança da população em relação as instituições em geral. Se isso não acontecer, talvez o preço que a humanidade irá pagar seja tão alto que muitas décadas serão necessárias para que o mundo se restabeleça.

Que as palavras de Martin Wolf (colunista do Financial Times – 08/10/2008):
    
“O medo por trás do atual colapso nos mercados financeiros é tão exagerado quanto a ganância que provocou o comportamento anterior há pouco tempo. Mas pânico não justificado também causa devastação. Ele deve ser detido, não na próxima semana, mas imediatamente” 

representem apenas um palpite no que se refere ao “medo exagerado”, uma realidade em relação ao “pânico não justificado” e uma ação firme e consistente por parte dos governos mundo afora,  para que seja “detido... imediatamente”.


A crise e as organizações


Uma realidade: vivemos num mundo de incertezas!  Nesse contexto, torna-se quase impossível planejar com consistência. Imagine-se na condição do gestor, executivo, diretor ou proprietário de empresa que há algumas semanas concluiu a compra de equipamentos importados para a expansão do empreendimento ou matérias primas essenciais para o negócio, com o dólar cotado a R$ 1,60, ou outro que fechou um contrato de exportação relevante, baseando seus custos e preços nessa mesma cotação! Certamente, enquanto o primeiro estaria se lamentando e/ou buscando alternativas para se posicionar diante da situação, o segundo estaria comemorando as margens excepcionais que o contrato de exportação traria para a sua empresa.

Qual será o impacto que sua organização sofrerá?  Muitas questões podem ser levantadas, não significando isso nenhuma previsão, nem intuição ou palpite e muito menos adivinhação.

Grandes organizações brasileiras com ações negociadas na bolsa de valores, por se tratar de companhias abertas e com obrigações junto a CVM e acionistas, se anteciparam e vieram a público reconhecer e informar perdas bilionárias com a exposição a derivativos cambiais (Ex: Sadia sofreu prejuízos de R$ 760 milhões, a Aracruz divulgou que o valor justo dos contratos cambiais seria de R$ 1,95 bilhões negativos se fossem liquidados até 30 de setembro e o Grupo Votorantim comunicou, no final da segunda semana de outubro, que precisou gastar R$ 2,2 bilhões para eliminar totalmente sua exposição a derivativos cambiais).

Nas empresas que têm  forte dependência do mercado externo no suprimento das matérias primas e/ou de mercadorias destinadas à comercialização, o momento exigirá muito sangue frio e serenidade na avaliação do que necessita ser feito, mesmo que os responsáveis por tais decisões sejam gestores experientes e qualificados, pois são muitas as variáveis que poderão influenciar o futuro dos negócios dessas organizações. Como se comportará o dólar no curto, médio e longo prazos? Será que o governo brasileiro e o Banco Central estarão dispostos a “queimar” reservas suficientes para manter a cotação num patamar razoável e sem comprometimento da estratégia monetária do país? É possível definir uma estratégia de negócios de curtíssimo prazo com grandes flutuações da moeda norte-americana? Se for possível, de que forma viabilizá-la? Se a cotação do dólar retomar, de forma consistente e firme, patamares superiores a R$ 2,50, a importação de matérias primas propiciará a geração de vendas de volumes suficientes e com margens mínimas que justifiquem a manutenção do negócio?

Provavelmente, as respostas para essas e tantas outras questões talvez não passem de previsões ou opiniões onde os fundamentos que poderiam garantir a sustentação das teses já não terão os mesmos comportamentos previsíveis, os quais, historicamente, sinalizavam e norteavam tantas e tantas decisões e direcionamentos por parte dos gestores das organizações.

Nas empresas que são ou estão dependentes de empréstimos e financiamentos bancários na gestão do capital de giro, poderão advir sérias complicações decorrentes das restrições e limitações nas linhas de crédito, bem como das taxas de juros que poderão atingir patamares impossíveis de serem gerenciados para a manutenção da solvência e qualidade de uma organização saudável financeiramente.

Principalmente nos últimos três anos, entre tantas coisas positivas, a economia brasileira apresentou crescimento do nível de emprego e de salários, redução da informalidade, surgimento de centenas de novas pequenas empresas e aumento do consumo com forte expansão das linhas e prazos de financiamento para a população de baixa renda e classe média.

Enquanto o setor automobilístico registrou os maiores níveis de produção e vendas, com recordes sucessivos, graças a um mercado interno fortemente aquecido pela facilidade na concessão de financiamentos de veículos (com prazos de pagamento nunca antes vivenciados em nosso país), o segmento da construção civil registrou o lançamento de milhares de novos empreendimentos imobiliários das mais variadas modalidades: condomínios residenciais com muita infra-estrutura de lazer, edificações compostas de conjuntos de lojas, escritórios, consultórios e apartamentos, shoppings centers, prédios comerciais e industriais, etc. Se confirmar-se a previsão dos “catastrofistas” de plantão de que o mundo entrará numa profunda recessão econômica, o que acontecerá com os empregos de milhões de pessoas que se endividaram em limites superiores a capacidade de solvência de seus compromissos?  Se essas pessoas pararem de honrar suas dívidas, como ficarão as empresas que concederam o financiamento e as empresas construtoras em relação aos projetos em andamento?

Embora cada um de nós tenha o direito de fazer previsões, prognósticos e tentativas de adivinhações, na realidade atual tudo não passa de pura especulação.     

Os meios de comunicação alardeiam somente o que é ruim, desastroso e catastrófico, gerando nas pessoas a sensação do medo, da angústia e sentimento de impotência e incapacidade de reação. Tal postura, neste momento, é lamentável, principalmente porque o ser humano se fragiliza diante de acontecimentos que ele não tem condições de avaliar em maior profundidade. Assim, sentindo-se desprotegido diante desses novos contextos e sem garantias em relação ao futuro de suas finanças pessoais, emprego ou negócio, passa a agir de forma defensiva, alimentando ainda mais os componentes que, de fato, podem levar o nosso país e o mundo para uma profunda recessão.

Como gestor de empresa, sério, responsável e competente, possivelmente você terá os maiores desafios de sua vida profissional nos próximos meses e, quem sabe, nos próximos anos. Manter a serenidade no meio de tantas incertezas e caos aparente será o seu grande desafio. Cerque-se de pessoas realistas, mas que tenham posturas positivas diante das adversidades, que não temam o desconhecido e que estejam dispostos a enfrentar os obstáculos com garra, firmeza e determinação.

Todos nós continuaremos convivendo com os palpiteiros de plantão, os quais estarão pronunciando-se em entrevistas nas principais estações de rádio, nos mais badalados telejornais, nos jornais e revistas de maior circulação e em dezenas de eventos de negócios organizados por empresas especializadas, as quais já percebem que dispõem de mais um ótimo tema para lançamento de seminários, workshops, palestras ou fóruns de debates, afinal, vivemos num mundo capitalista e as oportunidades não podem ser perdidas.

Dentro das organizações, muitos “donos da verdade” talvez tenham a receita ideal para superação das dificuldades. Todavia, dependendo do que vier pela frente, o medo e a insegurança também tomarão conta desses “seres especiais”, levando-os a juntar-se a maioria, esperando que soluções salvadoras ou milagrosas possam chegar de alguma parte.

Mais uma vez, principalmente para aqueles que já atuam profissionalmente há mais de três décadas, provavelmente estaremos diante de experiências nunca antes vivenciadas e é exatamente por isso que temos, novamente, a oportunidade de demonstrar nossa capacidade de superação, tendo nos obstáculos e desconhecido, os ingredientes necessários como combustível que nos conduzirão, outra vez, para grandes conquistas.

As incertezas e o caos deverão representar oportunidades para todos aqueles que ainda acreditam que estamos aqui como agentes de transformação, com força e energia capazes, se necessário, de criar novos contextos de relações, de respeito e de esperança de um futuro melhor para as novas gerações.

Calma, caro leitor, não se desespere!

Talvez o mais prudente é não levar tão a sério o que aqui foi escrito, pois afinal também não tenho bola cristal, não sou vidente ou cartomante, não jogo búzios nem tarô e não acredito em gurus que fazem previsões sobre o futuro. E você acredita?

Bom trabalho e até a próxima edição!

Autor: Carlos A. Zaffani  -  Consultor em Gestão de Empresas 

Nenhum comentário:

Postar um comentário