quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O caos urbano e suas consequências para as pessoas e empresas


Para iniciar este artigo, permita-me compartilhar uma realidade que vivenciei até o início da década passada.

Durante muitos anos trabalhei para uma empresa multinacional sediada em Osasco e, residindo na região do ABC, gastava uma média de quase três horas diárias nos trajetos de ida e volta que totalizavam perto de 100 km. Se considerarmos que, semanalmente isso representava 15 horas, mensalmente, em torno de 65 horas e, anualmente, algo próximo de 780 horas ou 32,5 dias, posso afirmar que durante os anos vinculados a essa empresa, estive mais de um ano e meio de minha vida dentro do meu carro, simplesmente para ir e voltar do trabalho!

Do ponto de vista de qualidade de vida, essa triste realidade, se já era terrível há doze anos, imagino que atualmente exigiria algo em torno de quatro a cinco horas diárias!

Um absurdo! Muito triste! Pois é, mas infelizmente, essa é a atual realidade de milhões de pessoas que perdem um tempo importante de suas vidas no trajeto de ida e volta do trabalho e o que é pior para a grande maioria: sendo transportados em ônibus e/ou trens sem um mínimo de conforto e dignidade! 

Essa breve introdução retrata uma realidade presente na maioria das grandes cidades brasileiras, gerando, entre outras coisas: um fardo enorme para a vida das pessoas, com consequências perigosas para a saúde de todos, mobilidade limitada do cidadão, desordem nas ruas, aumento absurdo do número de acidentes de trânsito, enfim: um drama para a sociedade e prejuízos para o ser humano, para as cidades e para o país!

E do lado das empresas, as consequências também são inúmeras. Entre outras, podemos citar: o drástico aumento de funcionários que não conseguem chegar no horário, queda de produtividade, aumento dos casos de depressão e/ou stress emocional, elevação dos custos logísticos em razão dos engarrafamentos, fazendo com que sejam reduzidos os ciclos de entrega e exigindo mais veículos na rua que contribuem para a piora do problema, maior consumo de combustíveis, aumento dos valores com seguros, mais contratação de motoristas e ajudantes e maior incidência de problemas de saúde com os mesmos. Além disso, dependendo do produto transportado, ele pode se estragar e/ou a validade ser encurtada, fazendo com que as empresas sejam obrigadas a produzir mais para estocagem, elevando os investimentos e custos envolvidos.

Toda essa realidade vem sendo estudada nos últimos anos e, enquanto os governos municipais, estaduais e federal procuram encontrar soluções para melhorar as condições da mobilidade urbana com a construção de novas vias, linhas de metrô e ônibus, vias de uso exclusivo para ônibus, restrição de utilização de veículos em determinados dias da semana e em determinadas áreas e/ou vias públicas, profissionais gabaritados de diferentes setores aprofundam conhecimentos e buscam novos caminhos através do teletrabalho, como é o caso da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades, a qual vem promovendo o trabalho a distância em todas as suas formas e aplicações (www.sobratt.org.br).

O que fazer diante desse quadro?

Como o tema é muito abrangente e pode ser desenvolvido sob várias óticas, vou me ater apenas a uma pequena parte.

Concordando inteiramente que o trabalho a distância é uma parte importante na busca de soluções para esse intrincado quebra cabeças e que, cada vez  mais, as empresas terão que, necessariamente, ter esse modelo como parte integrante de suas estruturas organizacionais, tenho a sensação de que, além disso e das iniciativas do setor público, precisaremos desenvolver e implementar novas formas de relacionamento com os funcionários e de operação entre e dentro das empresas.

Nota: Apenas para relembrar, algum tempo atrás, redigi um artigo publicado no site Cenofisco, onde destacava alguns aspectos favoráveis e desfavoráveis do trabalho a distância:

“Favoráveis

·         maior flexibilidade de horários;

·         eliminação de gastos com transporte e riscos no percurso até a empresa,  o que resulta também na diminuição da poluição e dos congestionamentos viários;

·         agilização da comunicação e da circulação de atividades e informação;

·         perspectiva de melhoria na vida privada do empregado através do maior convívio familiar;

·         maior inclusão de pessoas com dificuldades  de locomoção;

·         possível redução do desemprego através da não limitação do espaço da empresa; e

·         incremento da produção e diminuição de seus custos.

Desfavoráveis e/ou desvantagens:

·         isolamento do empregado do ambiente empresarial;

·         maior dificuldade com padronização da produção;

·         possíveis problemas com aspectos relacionados à segurança do trabalho (ex: ergonomia, esforços repetitivos, má postura, etc);

·         maior risco de desídia;

·         riscos de concorrência com o empregador e/ou quebra de sigilo profissional;

·         dificuldade de fiscalização; e

·         informalidade e exploração do trabalhador.”

Feito o destaque, além do trabalho a distância, o que mais as empresas podem ou poderão fazer para diminuir os problemas gerados pelo caos urbano?

OBS: Antes de responder a questão é importante salientar que todos os pontos envolvem aspectos que precisam ser bem avaliados para evitar-se eventuais contingenciamentos, autuações e/ou reclamações trabalhistas, bem como podem significar aumento de custos para as empresas.

1.    No relacionamento com os funcionários

·         Implantação de jornada de trabalho flexível   

De forma geral, embora não sendo possível a aplicação em todas as áreas das empresas, é cada vez maior o número de organizações que têm flexibilizado a jornada de trabalho para muitos de seus funcionários. Com isso, tais funcionários têm a possibilidade de ir para o trabalho e voltar para casa fora dos horários de pico dos congestionamentos.

·         Reduzir a jornada de trabalho com presença física na empresa

Essa alternativa também vem sendo utilizada por várias organizações e parece ser possível em muitas circunstâncias, desde que seja viável ao funcionário completar a jornada em sua residência (o conhecido home office).

·         Criar jornadas de trabalho diferenciadas

Assim como muitas categorias já desenvolvem (ex: médicos, enfermeiros e seguranças), muitos profissionais de várias áreas que não necessitem manter contatos externos nos horários tradicionais, poderiam trabalhar em jornadas diferenciadas e que não coincidem com os horários de maior congestionamento.

2.    Nas relações entre empresas

·         Incrementar as operações noturnas

Abrangendo não apenas as operações internas, mas mais especialmente as operações de toda a cadeia logística.

·         Criar parcerias nas quais atividades que se completam sejam parcial ou integralmente transferidas do dia para a noite

Exemplo: Parte das atividades da área de vendas de uma empresa com parte das atividades de compras de outra.

 
Considerações finais

Tenho plena consciência de que tais sugestões representam muito pouco diante da magnitude do problema e que temos muito a aprender para encontrar soluções mais eficazes, porém,  parece-me que o grande nó que precisa ser desatado reside na imensa concentração do fluxo das pessoas entre as 5 horas da manhã até as 20 horas da noite (o que totaliza 15 horas), muito embora o dia tenha 24 horas. 

Metaforicamente falando, é como se tivéssemos um elástico que podemos esticá-lo somente 2/3 de seu comprimento, fazendo com que atinja seu limite de resistência mais rapidamente e arrebente! Em tais circunstâncias, qualquer observador faria a seguinte afirmação: se você segurar as duas pontas do elástico (3/3 de seu comprimento) e esticá-lo, conseguirá aumentar sua expansão e evitará que se arrebente, pois estará aproveitando-o em toda sua capacidade de resistência!

Trazendo a metáfora para nossa realidade, o “elástico” representa as 24 horas do dia e “quem estica” é representado pelas empresas, comércio, bancos, autarquias, escolas, transporte público, etc que funcionam somente parte do dia!

Por isso, neste momento, tenho a percepção de que, por maiores que sejam os investimentos do setor público na mobilidade urbana e avanços tecnológicos que viabilizarão o trabalho a distância, as grandes cidades não terão outro caminho que não seja o pleno “funcionamento” durante as 24 horas do dia!

Talvez minha percepção esteja errada! E o caro leitor, o que acha?

Bom trabalho e até breve!
 
Autor: Carlos A. Zaffani - Consultor em Gestão de Empresa

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Previsão, intuição, palpite ou adivinhação?

Nota : Escrevi este artigo em outubro de 2008 e o mesmo foi publicado (na época) por algumas mídias diferentes e, mesmo neste blog, já o divulguei.

Passaram-se mais de 6 anos, muita coisa boa e ruim aconteceu e estamos, novamente, diante de um momento em nosso país considerado crítico por muitos e sem perspectiva de solução.

Assim, convido-o a lê-lo para uma reflexão, fazendo uma analogia com as perspectivas para o Brasil em 2015!

Meu cordial abraço!
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Iniciei a redação deste artigo poucos dias após o governo dos Estados Unidos ter aprovado um pacote de ajuda ao sistema financeiro norte-americano de US$ 700 bilhões e no dia em que a Bolsa de Valores de São Paulo acumulava – em quatro dias úteis – uma perda de 19,4%, enquanto o dólar encerrava o dia cotado em R$ 2,31, representando uma desvalorização do real de mais de 40% em poucas semanas, significando uma verdadeira maxi-desvalorização.

Muito embora essa crise tivesse dado seus primeiros sinais há mais de um ano, ninguém teve a coragem de afirmar que grandes e tradicionais instituições financeiras norte-americanas e de outros países poderiam vir a quebrar alguns meses depois. Todavia, passadas algumas semanas da quebra de um dos maiores bancos de investimentos norte-americanos (Lehman Brothers) e a percepção generalizada de que estamos no meio (ou seria no início?) de um autêntico furacão nas finanças do mundo, também parece existir agora, um consenso de que ninguém, absolutamente ninguém, pode afirmar – com segurança – a dimensão do impacto das coisas que estão por vir e que certamente afetarão as economias dos países, das empresas e das pessoas mundo afora.

O nosso país, que tanto se beneficiou dos preços internacionais de várias commodities e vivendo uma das melhores fases econômicas de sua história recente, parece não querer acreditar na dimensão do problema e – através de pronunciamentos de vários representantes do governo – procura minimizar os efeitos danosos, ressaltando que o Brasil estaria preparado para enfrentar a crise e sem grandes dificuldades. Será isso uma realidade? O tempo dirá?

Quando o prezado leitor estiver lendo este artigo, provavelmente muita coisa já tenha ocorrido. Esperamos que decisões sensatas tenham sido tomadas pelos governos das principais nações do mundo e que as mesmas tenham sido suficientes para o restabelecimento da confiança da população em relação as instituições em geral. Se isso não acontecer, talvez o preço que a humanidade irá pagar seja tão alto que muitas décadas serão necessárias para que o mundo se restabeleça.

Que as palavras de Martin Wolf (colunista do Financial Times – 08/10/2008):
    
“O medo por trás do atual colapso nos mercados financeiros é tão exagerado quanto a ganância que provocou o comportamento anterior há pouco tempo. Mas pânico não justificado também causa devastação. Ele deve ser detido, não na próxima semana, mas imediatamente” 

representem apenas um palpite no que se refere ao “medo exagerado”, uma realidade em relação ao “pânico não justificado” e uma ação firme e consistente por parte dos governos mundo afora,  para que seja “detido... imediatamente”.


A crise e as organizações


Uma realidade: vivemos num mundo de incertezas!  Nesse contexto, torna-se quase impossível planejar com consistência. Imagine-se na condição do gestor, executivo, diretor ou proprietário de empresa que há algumas semanas concluiu a compra de equipamentos importados para a expansão do empreendimento ou matérias primas essenciais para o negócio, com o dólar cotado a R$ 1,60, ou outro que fechou um contrato de exportação relevante, baseando seus custos e preços nessa mesma cotação! Certamente, enquanto o primeiro estaria se lamentando e/ou buscando alternativas para se posicionar diante da situação, o segundo estaria comemorando as margens excepcionais que o contrato de exportação traria para a sua empresa.

Qual será o impacto que sua organização sofrerá?  Muitas questões podem ser levantadas, não significando isso nenhuma previsão, nem intuição ou palpite e muito menos adivinhação.

Grandes organizações brasileiras com ações negociadas na bolsa de valores, por se tratar de companhias abertas e com obrigações junto a CVM e acionistas, se anteciparam e vieram a público reconhecer e informar perdas bilionárias com a exposição a derivativos cambiais (Ex: Sadia sofreu prejuízos de R$ 760 milhões, a Aracruz divulgou que o valor justo dos contratos cambiais seria de R$ 1,95 bilhões negativos se fossem liquidados até 30 de setembro e o Grupo Votorantim comunicou, no final da segunda semana de outubro, que precisou gastar R$ 2,2 bilhões para eliminar totalmente sua exposição a derivativos cambiais).

Nas empresas que têm  forte dependência do mercado externo no suprimento das matérias primas e/ou de mercadorias destinadas à comercialização, o momento exigirá muito sangue frio e serenidade na avaliação do que necessita ser feito, mesmo que os responsáveis por tais decisões sejam gestores experientes e qualificados, pois são muitas as variáveis que poderão influenciar o futuro dos negócios dessas organizações. Como se comportará o dólar no curto, médio e longo prazos? Será que o governo brasileiro e o Banco Central estarão dispostos a “queimar” reservas suficientes para manter a cotação num patamar razoável e sem comprometimento da estratégia monetária do país? É possível definir uma estratégia de negócios de curtíssimo prazo com grandes flutuações da moeda norte-americana? Se for possível, de que forma viabilizá-la? Se a cotação do dólar retomar, de forma consistente e firme, patamares superiores a R$ 2,50, a importação de matérias primas propiciará a geração de vendas de volumes suficientes e com margens mínimas que justifiquem a manutenção do negócio?

Provavelmente, as respostas para essas e tantas outras questões talvez não passem de previsões ou opiniões onde os fundamentos que poderiam garantir a sustentação das teses já não terão os mesmos comportamentos previsíveis, os quais, historicamente, sinalizavam e norteavam tantas e tantas decisões e direcionamentos por parte dos gestores das organizações.

Nas empresas que são ou estão dependentes de empréstimos e financiamentos bancários na gestão do capital de giro, poderão advir sérias complicações decorrentes das restrições e limitações nas linhas de crédito, bem como das taxas de juros que poderão atingir patamares impossíveis de serem gerenciados para a manutenção da solvência e qualidade de uma organização saudável financeiramente.

Principalmente nos últimos três anos, entre tantas coisas positivas, a economia brasileira apresentou crescimento do nível de emprego e de salários, redução da informalidade, surgimento de centenas de novas pequenas empresas e aumento do consumo com forte expansão das linhas e prazos de financiamento para a população de baixa renda e classe média.

Enquanto o setor automobilístico registrou os maiores níveis de produção e vendas, com recordes sucessivos, graças a um mercado interno fortemente aquecido pela facilidade na concessão de financiamentos de veículos (com prazos de pagamento nunca antes vivenciados em nosso país), o segmento da construção civil registrou o lançamento de milhares de novos empreendimentos imobiliários das mais variadas modalidades: condomínios residenciais com muita infra-estrutura de lazer, edificações compostas de conjuntos de lojas, escritórios, consultórios e apartamentos, shoppings centers, prédios comerciais e industriais, etc. Se confirmar-se a previsão dos “catastrofistas” de plantão de que o mundo entrará numa profunda recessão econômica, o que acontecerá com os empregos de milhões de pessoas que se endividaram em limites superiores a capacidade de solvência de seus compromissos?  Se essas pessoas pararem de honrar suas dívidas, como ficarão as empresas que concederam o financiamento e as empresas construtoras em relação aos projetos em andamento?

Embora cada um de nós tenha o direito de fazer previsões, prognósticos e tentativas de adivinhações, na realidade atual tudo não passa de pura especulação.     

Os meios de comunicação alardeiam somente o que é ruim, desastroso e catastrófico, gerando nas pessoas a sensação do medo, da angústia e sentimento de impotência e incapacidade de reação. Tal postura, neste momento, é lamentável, principalmente porque o ser humano se fragiliza diante de acontecimentos que ele não tem condições de avaliar em maior profundidade. Assim, sentindo-se desprotegido diante desses novos contextos e sem garantias em relação ao futuro de suas finanças pessoais, emprego ou negócio, passa a agir de forma defensiva, alimentando ainda mais os componentes que, de fato, podem levar o nosso país e o mundo para uma profunda recessão.

Como gestor de empresa, sério, responsável e competente, possivelmente você terá os maiores desafios de sua vida profissional nos próximos meses e, quem sabe, nos próximos anos. Manter a serenidade no meio de tantas incertezas e caos aparente será o seu grande desafio. Cerque-se de pessoas realistas, mas que tenham posturas positivas diante das adversidades, que não temam o desconhecido e que estejam dispostos a enfrentar os obstáculos com garra, firmeza e determinação.

Todos nós continuaremos convivendo com os palpiteiros de plantão, os quais estarão pronunciando-se em entrevistas nas principais estações de rádio, nos mais badalados telejornais, nos jornais e revistas de maior circulação e em dezenas de eventos de negócios organizados por empresas especializadas, as quais já percebem que dispõem de mais um ótimo tema para lançamento de seminários, workshops, palestras ou fóruns de debates, afinal, vivemos num mundo capitalista e as oportunidades não podem ser perdidas.

Dentro das organizações, muitos “donos da verdade” talvez tenham a receita ideal para superação das dificuldades. Todavia, dependendo do que vier pela frente, o medo e a insegurança também tomarão conta desses “seres especiais”, levando-os a juntar-se a maioria, esperando que soluções salvadoras ou milagrosas possam chegar de alguma parte.

Mais uma vez, principalmente para aqueles que já atuam profissionalmente há mais de três décadas, provavelmente estaremos diante de experiências nunca antes vivenciadas e é exatamente por isso que temos, novamente, a oportunidade de demonstrar nossa capacidade de superação, tendo nos obstáculos e desconhecido, os ingredientes necessários como combustível que nos conduzirão, outra vez, para grandes conquistas.

As incertezas e o caos deverão representar oportunidades para todos aqueles que ainda acreditam que estamos aqui como agentes de transformação, com força e energia capazes, se necessário, de criar novos contextos de relações, de respeito e de esperança de um futuro melhor para as novas gerações.

Calma, caro leitor, não se desespere!

Talvez o mais prudente é não levar tão a sério o que aqui foi escrito, pois afinal também não tenho bola cristal, não sou vidente ou cartomante, não jogo búzios nem tarô e não acredito em gurus que fazem previsões sobre o futuro. E você acredita?

Bom trabalho e até a próxima edição!

Autor: Carlos A. Zaffani  -  Consultor em Gestão de Empresas